Dona Thereza

         Thereza Favali, nasceu na cidade de Itapetininga, interior de São Paulo, aos 27 de junho de 1904, filha de Maria Pereira Magalhães e Paulo Favali, comerciantes. Teve dois irmãos, Ítalo e Amélia. Ao iniciar sua infância a tristeza abalou sua família. Seu pai faleceu em viagem a Itália, em seguida falece seu irmão de tétano, aos sete anos de idade, posteriormente, já debilitada emocionalmente pelo sofrimento e dor, fale sua mãe.
         Assim ficaram órfãs, Thereza com 9 anos e Amélia com 10 anos.
         Sem os pais as menores foram morar com uns primos, e depois em definitivo, com seus tios maternos: Dionísio e Adelina, que as criaram e educaram com grande dificuldade, mas com o carinho e o amor de verdadeiros pais.
          Thereza Favali em sua infância foi uma criança recatada, obediente e cumpridora de seus afazeres domésticos e escolares, bem como sua irmã Amélia Favali.
         Em suas adolescências escolheram o magistério como profissão. Cursaram o curso normal no município de Itapetininga, pela Escola Normal Secundária “Peixoto Gomide”, instituição de ensino regularizado pelo decreto nº: 245 de 1894. Excelente aluna, Thereza  Favali termina o curso com êxito. Ainda jovem, em 1922, obtém diploma de Normalista. Iniciaria-se, a partir de então sua brilhante carreira dentro do magistério paulista, onde manteve uma louvável atuação em benefício da educação popular. Evidenciam-se logo, no início de sua prática docente, notável interesse pelas coisas do ensino e obras merecedoras de atenção.
          Foi como professora nomeada pelo decreto de 10 de fevereiro de 1927 que veio morar no município de Salto Grande, começando a lecionar nas Escolas Reunidas de Salto Grande em data de 02 de Março de 1927, regendo a 4ª escola mista, juntamente com sua irmã, Amélia Favali, que também fora nomeada para lecionar nas Escolas Reunidas de Salto Grande, regendo a 1ª Escola Feminina. Hospedando-se, ambas, na pensão de Dona Madalena Piemonte Pocay, que mais tarde seria sogra das duas jovens professoras.
Em 1930, aos 27 anos de idade, casa-se com Arnaldo Pocay, tendo através deste matrimônio cinco filhos, respectivamente: Dalva Rute, Benedito Gentil, Arnaldo José, Luiz Carlos e Roberto Márcio. Neste momento da vida da jovem professora, sua ligação com a cidade de Salto Grande passa a ser tão forte como aquela que a une à sua família.
          Mesmo sendo esposa e mãe, a jovem professora Thereza Favali Pocay, já naturalizada Saltograndense por adoção, não abandona a prática do ensino. Seu grande desempenho no trabalho e forte amor à profissão a faz querida pelos alunos e pela comunidade. Sua metodologia é voltada diretamente aos discentes e suas regras de ação estão cheias de espontaneidade, iniciativa pessoal, imaginação e sentimento. Como bem ressalta João de Souza em sua obra Episódios que ouvi... ou vivi, págs. 16 e 20.

“Dona Teresa tinha sempre histórias para contar – além de ensinar a ler e escrever – em cada oportunidade que surgisse, ou até mesmo se tivesse a sombra de uma oportunidade (...)”
“(...) aproveitava o fato de ter o dia amanhecido chuvoso para explicar que com o calor a água passava do estado líquido ao gasoso, subindo ao espaço e  armazenando-se em nuvens. Das nuvens voltava à Terra no estado líquido, para regar as plantações que dela precisavam para crescer e produzir frutos (...)”

         Através de seus valiosos conhecimentos didáticos o ensino Saltograndense consegue oferecer aos jovens alunos o fim único da educação: a perfeição do homem em todos os sentidos. Pois, em sua missão de educar a juventude, ensina as pegadas da honestidade, da verdade, da fé e do trabalho.
         Respeitada por sua luta e dedicação para a questão mais importante da nacionalidade, a educação, lhe foi confiada muitas vezes a direção do Ensino Primário Saltograndense. A Instituição Escolar novamente se beneficia de suas obras meritórias. Pois, neste instante, oferece seus conhecimentos não só à prática de ensino, mas à técnica escolar, fazendo justiça ao valor real da Educação.
          Sua trajetória dentro do Magistério Paulista termina em 1958, ao se aposentar com 31 anos de carreira. Podemos aqui, repetir uma frase oportuna: “A professora trabalhou e São Paulo cresceu”. Entretanto, seu trabalho perseverante em benefício da educação e da formação intelectual dos educandos, permanece vivo no campo da educação Saltograndense, como ponto de referência aos professores que se dedicam à benemérita missão de educar a juventude e formar gerações.
                Para obtermos a compreensão do trabalho dignificador da professora Thereza Favali Pocay na área da educação, urge atentarmos a um fator importante, que torna um método bom ou mal conforme a habilidade e a competência. Este elemento é o mestre. Em todo o ensino há uma parte emocional e simpática, que paira sobre o proceder e os métodos, e os envolve em uma rede sutil: é a vocação, o entusiasmo, é o dom de ensinar, que move a alma dos alunos a vibrar, concorde com a do professor, em admirável compenetração. Quando falta este vinculo de simpatia e amor, o mestre ensina como o semeador distraído, que deixa cair as sementes ao azar, vai sim, com o passo cadencioso e os movimentos rítmicos, mas não como o jardineiro que semeia e cultiva planta por planta. Em ambos os casos, como conseqüência, as plantas em sua maioria nascem e se desenvolvem; porém o que aproxima o jardineiro, individualmente, a cada uma de suas plantas, falta no aldeão que possui apenas, quando possui, o amor coletivo de sua sementeira.
           Como se percebe desde logo, o notório trabalho educacional da professora Thereza Favali Pocay no município de Salto Grande foi edificado sobre o sólido alicerce da vocação de ensinar, que entrelaçado a idéia de que a Educação é vida, é um verdadeiro sacerdócio, proporcionou resultados fecundos, indispensáveis à eficiência da educação. Sem indicar meios práticos para a obtenção desse resultado, a querida professora Thereza Favali Pocay, deixa seu coração falar e revela com carinho e orgulho, “adorei a minha profissão e amava as crianças como se fossem meus filhos. (...)E hoje aquelas crianças que me viram como a mestra grande em tamanho, cresceram, multiplicaram e eu dividi em meu tamanho, tornei-me pequena, mas muito feliz graças à Deus”.
            Além de seu trabalho que muito honrou o magistério paulista, a professora Thereza Favali Pocay também desenvolveu importantes atividades no campo social, religioso e político Saltograndense.
         No campo social fez parte, por vários anos, da L.B.A. (Legião Brasileira de Assistência) do município de Salto Grande, onde exercia as funções de Assistente Social, porém, sem remuneração. Pois, sempre atendeu os menos favorecidos por amor, procurando sempre ajudá-los, com palavras ou com meios de subsistência ou abrigo. Podemos dizer que sua  maior atuação e a que melhor conta aos olhos de Deus foi e continua sendo sua doação ao próximo, vivendo verdadeiramente o Evangelho de Jesus.
         A fé em Deus foi a razão de toda a sua vida, exercendo com ardor e benignidade a prática Cristã. Foi durante anos catequista, onde ensinava aos pequeninos a compreender a palavra de Deus. Foi filha de Maria, coordenou a reza do terço às 18 horas, realizada todos os dias na Igreja Matriz. Além de coordenar e ajudar nas quermesses paroquiais, procissões e limpeza da Igreja. Participou da equipe de batismo, dando palestras ou cuidando das crianças, enquanto os pais ouviam as palavras. Nestes cursos procurava conscientizar os pais sobre o valor do Batismo. Em 1930 ingressou no Apostolado da Oração, como devota do Sagrado Coração de Jesus, onde exerceu todos os cargos, sendo presidente desta Congregação por muitos anos.
         Em 1953, convidada por sua cunhada Noêmia Pocay, ingressa na política pelo Partido Social Progressista – PSP, vencendo as eleições de 1956 e cumprindo com proficiência o mandato até 1959. Sendo a primeira mulher a assumir a presidência da Câmara Municipal de Salto Grande. Muito honrando os munícipes com propostas voltadas para o campo sócio-econômico, propiciando novas perspectivas de progresso para a cidade.
         Sempre pautando-se pela dignidade, um de seus atos de maior importância como mulher, foi sua doação à família, principalmente após o falecimento de seu esposo em 1951. Assumindo sozinha o dever de sustento, guarda e criação de seus filhos. Amparando e cuidando até a morte os seus tios já bem velhinhos.
          O que se verifica é que como filha, mestra, mulher, esposa, mãe, sogra, avó, bisavó e como sociedade é um exemplo a ser imitado, mas dificilmente igualada. Por tudo isso, merece ter seu nome lembrado. Desde já, fica indelevelmente marcada esta homenagem àquela mestra que deixou sua lembrança nos corações de todos os seus ex-alunos, e de todos que a conhece e a estima.
          No dia 03 de julho de 1999, no Recinto da Câmara Municipal de Salto Grande, em uma homenagem prestada à mestra, a frase que marcou e que ficará para sempre é que a Professora Thereza Favali Pocay é “O patrimônio da cidade”. Frase proferida pelo prefeito da época Dr. Asdrubal.
          Por último, é necessário assinalar que a presença de Cristo na vida da professora Thereza Favali Pocay é uma constante. Basta ver seu rosto sempre alegre, com aquele sorriso a iluminar sua face. Aí está o segredo de sua longevidade. A sua fé em Deus e no Sagrado Coração de Jesus, a alegria pelo dom da vida, o amor às pessoas, à família, às boas leituras. Sendo uma pessoa de Deus, justa, honesta, imparcial, bondosa e desapegada a bens materiais. Essas qualidades e esse amor ao próximo é que fizeram com que superasse todas as dificuldades que a vida colocou em seu caminho, não deixando nela nenhuma amargura. Seu psicólogo sempre foi Deus, o remédio a bondade, a oração e a fé. Fazendo uso da palavra, professora Thereza Favali Pocay conclui: “Sou uma criatura muito feli, com a graça de Deus. Nunca tive inimizades. Todos são meus amigos. Em 1981 levei um tombo, quebrando o fêmur, fiquei um ano sem andar, mas com a graça de Deus, já estou andando, mas deixei de fazer muita coisa que desejaria fazer. Deus seja louvado!”.
          E amando sua terra – filha ilustre – o mito que tão bem soube formar caráter, plasmar intelectos e entrelaçar em harmonia mente, alma e coração, mais uma vez a quis servir:

        “Quero dar a minha mensagem aos jovens: sejam bons filhos, respeitem seus pais e aceitem os conselhos dos mais velhos.
         Vocês são jovens, são a Esperança do Futuro, portanto, aceitem este meu conselho: não tomem drogas, não fumem, evitem as bebidas alcoólicas, amem à Deus e sigam os seus mandamentos que os conduzirá para o bom caminho e assim vocês serão muito felizes”.